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segunda-feira, 31 de março de 2008
Curso interactivo de português
sábado, 29 de março de 2008
Mário Dionísio e as formas de tratamento

Andei tantos anos lá por fora! Foram tantos, na verdade, que quase me esqueci de alguns usos e costumes da terra onde nasci, a minha pátria.
Com efeito! Os franceses governam-se com um tu e um vous, um Monsieur, um Madame, um Mademoiselle e já está. No dia-a-dia, digo eu. Os povos de língua inglesa (esses então!) resolvem tudo com um bendito you. Ou pouco mais. Até os espanhóis, tão dados ao saracoteio, além do tu, se ficam normalmente por um bom e expressivo usted, como um remate de frenéticas castanholas: chega bem. Só nós - pobres de nós!, ruminando ou escoicinhando, salvo seja, nesta terrinha esguia entre a Europa e o mar -, nos agarramos a uma ensarilhada gama de fórmulas obsoletas, ou que assim me parecem, no nosso convívio diário. Gama tão subtil e caprichosa que nem sempre nós próprios sabemos qual escolher. Será preciso dizer mais? Além do «tu», que é da ordem natural das coisas, há o «vós» (o solene e untuoso «vós»: pensastes, quiserdes, julgaríeis), já quase morto, o coitado, mas ainda estrebuchando com vigor, o «vocemecê» ou «vomecê», o agora universal «você», ainda não há muito recebido à patada: «Você é estrebaria!»
E o «Senhor», o «Senhora», o «Menina», o «Dona», o «Senhora Dona», o «Vossa Excelência» ou «Vocelência» ou «Vossência», o «Excelentíssimo Senhor », o «Excelentíssima Senhora». E, ainda, o «Excelentíssima Senhora Dona», o «Ilustríssimo Senhor», o «Vossa Senhoria». Estará a lista completa? O «Senhora», «Senhora Dona» ou só «Dona» já me puseram, e por mais de uma vez, em situações embaraçosas. Que sempre corrigi a tempo por uma espécie de intuição que só posso atribuir a profundas ligações de consaguinidade. A vendedeira de hortaliça do mercado onde cá em casa se abastecem normalmente é a senhora Josefa. Claro. Não a D. Josefa. E nunca por nunca ser senhora D. Josefa. A proprietária da lojeca onde compro os jornais e os cigarros, já não poderei eu tratá-la por senhora Margarida (incorrecção das grandes), mas por D. Margarida, prova de distinção, ainda que modesta. Um est modus in rebus. Longe, portanto, de senhora Margarida, mas também de senhora D. Margarida, tratamento a que ela não tem de aspirar. E a sua vizinha do lado, esposa dum funcionário das Finanças ou lá que é, só legitimamente pode ser senhora D. Catarina. Não trabalha. Só D. Catarina implicaria excessiva ou menor consideração. E senhora Catarina, nem brincando. Isso era grosseria de se levar com a porta na cara.
Toda a gente me diz que nos últimos anos (de algo terá servido o 25 de Abril) está em curso uma certa evolução. Muito lenta, claro está. Nisto, como em tudo, um sonolento arrastar de caracol. [ ... ]
E o «doutor», meu Deus! Esse banal e tão português «senhor doutor»? Essa leitura da abreviatura por contracção («dr.») do grau de licenciado, que meio país continua a cobiçar? Quem não quer ser «doutor», ainda que só «dr.» - vantagens do código oral sobre o código escrito? Quem não fará tudo para isso, os pais empenhando o que têm e não têm, os filhos estudando, claro, ou inventando mil processos de irem fazendo cadeiras e mais cadeiras, até obterem o sagrado diploma que da jus ao desejado tratamento? Porque —isto me espanta mais que tudo—, no país de que estive ausente tanto tempo mas é o meu país (a gente pode andar lá por fora a vida inteira mas não quer outra pátria), tal título continua a proporcionar benesses que o simples “senhor” nunca deu nem dará. A pesar —é notável!— da abundância já inflaionária daqueles que o usam. Facilita coisas, abre portas, encurta ou alarga prazos. [...]
quinta-feira, 27 de março de 2008
Valter Hugo Mãe en Cáceres
Nacido en Angola en 1971, es licenciado en Derecho y Posgraduado en Literatura Portuguesa Moderna y Contemporánea. Ha publicado varios libros de poemas, como Libro de maldiciones , Pornografía erudita y Bruno , este último publicado en el sello extremeño Littera Libros, de Villanueva de la Serena, y la novela Nuestro reino .
Dirigida a un público amplio, la conferencia lleva por título "De Fernando Pessoa a José Saramago. La literatura portuguesa del siglo XX" y en ella se hará un recorrido por los principales autores y movimientos de la literatura del país vecino en el siglo pasado.
Ambas conferencias darán comienzo a las 20"15 horas.
terça-feira, 25 de março de 2008
Solicitan que el idioma Portugués ingrese al sistema educativo formal
segunda-feira, 24 de março de 2008
"Nascido em Portugal, de pais portugueses, / e pai de brasileiros no Brasil..."

I
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeto
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.
II
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine,
que Valery, o cretino, achava um dos mais belos da «langue».
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no foucinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.
III
a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia
aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque,
como toda a gente, não sabe português.
Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações.
Conversaremos em volapuque, já
que nenhum de nós o sabe. O Minotauro
não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia,
de toda esta merda douta que nos cobre há séculos,
cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos
os escravos de outros. Ao café,
diremos um ao outro as nossas mágoas.
IV
de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha
de não pertenecer a elas. Nem eu, nem o Minotauro,
teremos nenhuma pátria. Apenas o café,
aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil,
da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café
contudo e que eu, com filial ternura,
verei escorrer-lhe do queixo de boi
até aos joelhos de homem que não sabe
de quem herdou, se do pai, se da mãe,
os cornos retorcidos que lhe ornam a
nobre fronte anterior a Atenas, e quem sabe,
à Palestina, e outros lugares turísticos
imensamente patrióticos.
V
sem versos e sem vida,
sem pátrias e sem espírito,
sem nada, nem ninguém,
que não o dedo sujo,
hei-de tomar em paz o meu café.
Jorge de Sena, Peregrinatio ad loca infecta (1969)
quarta-feira, 19 de março de 2008
Atenção!!! O novo acordo ortográfico! O que vai mudar na grafia do português!
Não entrem em “stress” amigos e amantes do idioma luso! O “Novo Acordo Ortográfico” apenas afeta (reparem que já estou de acordo com o acordo, grande redundância!) a grafia da escrita e não interfere de modo nenhum nem nas diferenças orais, nem nas variações gramaticais ou lexicais.
Já podemos encontrar dicionários no mercado segundo esta nova norma, no entanto recomendo um documento sucinto mas eficaz redigido por João Malaca Casteleiro e Pedro Dinis Correia, editado pela “Texto”.
A partir de agora não vai haver tantas diferenças entre a variante europeia, brasileira e africana. Se é uma medida positiva, ainda não posso opinar, mas como diz Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”…
quinta-feira, 13 de março de 2008
segunda-feira, 10 de março de 2008
domingo, 9 de março de 2008
Brasil 'cumple' dos siglos

Artículo completo de Eric Nepomuceno en El País
Mais na RTP Notícias
sábado, 8 de março de 2008
Jorge Mateus de Lima e a negra Fulô

ESSA NEGRA FULÔ
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangué dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
– vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô
ficou logo pra mucama,
pra vigiar a Sinhá
pra engomar pro Sinhô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
Vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar a minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
«Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco.»
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
«Minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou.»
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou?
– Ah! foi você que roubou!
– Ah! foi você que roubou!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
– Ah! foi você que roubou!
– Ah! foi você que roubou!
O Sinhô foi açoitar
sozinho essa negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô!
domingo, 2 de março de 2008
El paso 16 de la Raya es un azud en Zarza

Es extraño este pueblo. La mañana de niebla colabora en la extrañeza. En la plaza, media docena de personas aguardan algo. «Esperamos un cadáver», informan añadiendo inquietud a la escena. Resulta que hoy llegan de Lisboa los restos de Francisco Serra, benefactor de Salvaterra. «Tenía contactos en Lisboa y consiguió la carretera que lleva a la frontera. Se acabó hace ocho años», informa Fafa. Después se apiada del hambriento y nos invita a conocer su casa y a tomar un plato de sopa.
Estamos en Salvaterra do Extremo, un pueblecito portugués fronterizo que desde el año pasado está unido a España por un puente que oficialmente no existe y cruza el río Erjas para llegar al pueblo cacereño de Zarza la Mayor. Visitamos una de las zonas menos pobladas de la Península Ibérica. Comparemos: la comarca menos habitada de España está en Soria: 9 habitantes por kilómetro cuadrado, los mismos que tiene el municipio de Zarza la Mayor. Lo de Salvaterra es más espectacular: dos habitantes y medio por cada kilómetro cuadrado.
Para llegar a este pueblo neblinoso, misterioso y bello, donde la gente espera cadáveres en la plaza, hemos circulado por una carretera no indicada y hemos cruzado un puente que no existe. Es la Raya hispano-lusa, la frontera más pobre y fascinante de la vieja Unión Europea, un espacio que están descubriendo los medios de comunicación germánicos, los mismos que quedaron prendados de Canarias, Mallorca o Finisterre. Este mes de marzo, la radio televisión pública de Suiza dedica programas semanales de una hora ('Le dromedaire') a la Raya extremeña.