sábado, 31 de outubro de 2015

Hoje é o Dia D (de Drummond, claro)



Viva Drummond de Andrade! Leiamos Drummond:





POEMA DA NECESSIDADE

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o FIM DO MUNDO.
 
Carlos Drummond de Andrade 










sábado, 17 de outubro de 2015

Expressões típicas alentejanas

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Expressões típicas alentejanas

Terra de tradições e cultura, o Alentejo possui ainda expressões muito curiosas. Conheça algumas das expressões típicas alentejanas.

Todo o bom alentejano “abala” para um sítio qualquer, que normalmente é já ali. O ser já ali é uma forma de dizer que não é muito longe, mas claro que qualquer aldeia perto, aqui no Alentejo, está no mínimo a cerca de 30km. Só um alentejano sabe ser alentejano!

Um alentejano “amanha” as suas coisas, não as arranja, um alentejano tem “cargas de fezes”, não tem problemas, um alentejano vai “à do ou à da…” não vai a casa de…, um alentejano “inteira-se das coisas”, não fica a saber… No Alentejo não há aldrabões, há “pantomineiros”, e aqui também não se brinca, “manga-se”.

No Alentejo não se deita nada fora, “aventa-se” qualquer coisa e comem-se “ervilhanas” ou “alcagoitas” (amendoins) e “malacuecos” (farturas). Os alentejanos não espreitam nada nem ninguém, apenas se “assomam”… E quando se “assomam”, muitas vezes podem mesmo ter dores nos “artelhos” (tornozelos)!

As coisas velhas são “caliqueiras” e muitas vezes viaja-se de “furgonete” (carrinha de caixa aberta), algo que pode deixar as pessoas “alvoreadas” (desassossegadas).

Quando algo não corre bem é uma “moideira” (chatice) e ficamos “derramados” (aborrecidos) com a situação, levando muitas vezes a que as pessoas acabem por “garrear” (discutir) umas com as outras e a fazerem grandes “descabeches” (alaridos).

“Ainda-bem-não” (regulamente) as pessoas têm que puxar pela “mona” (cabeça) para se desenrascarem quando muitas vezes a solução dos seus problemas está mesmo “escarrapachada” (bem visível) à sua frente.

Não estou “repeso” (arrependido) de ter escrito esta pequena crónica, com vista a lembrar detalhes do património oral que nos é tão próximo e muitas vezes de “bradar” aos céus. “Dei fé” (pesquisei) a algumas expressões e tentei não vos criar, a vós leitores, uma grande “moenga”, apenas quero que guardem algumas destas expressões na vossa “alembradura” (lembrança)!


(Fonte: Ruralea))