sábado, 14 de outubro de 2006

“É que estou morrendo e não me diverti nada!”

Ocurre, a veces, que descubrimos un gran escritor, hasta entonces desconocido para nosotros, de forma totalmente casual. Eso me pasó con una de las más importantes autoras brasileñas vivas: Lygia Fagundes Telles (1923). Una amiga me copió unos fragmentos de su libro A disciplina do amor, ciento cuarenta y tantas páginas que deslumbran y acaban sabiendo a poco, de chorar e pedir por mais, vamos. Este libro está compuesto por fragmentos y relatos inconexos sin una aparente lógica, la cual va apareciendo conforme vamos avanzando en su lectura.

Lygia Fagundes Telles fue la tercera mujer que ingresó en la Academia Brasileira de Letras (1985) y, entre otros premios, ha recibido en 2001 el Jabuti, de la Câmara Brasileira das Letras, y el año pasado el Prémio Camões . Aunque haya sobresalido como cuentista, destacan en su obra novelas como Ciranda de pedra (1954), Verão no aquário (1963), Antes do baile verde (1969), As meninas (1973), la más conocida de sus obras y adaptada al cine y a la televisión, y As horas nuas (1989), además de los volúmenes de cuentos Histórias escolhidas (1964) e Invenção e Memória (2000) y el de memórias Durante aquele estranho chá - Perdidos e achados (2002), sin olvidarnos de A disciplina do amor (1980), claro.

«“O homem é tão necessariamente louco que não ser louco representaria uma outra forma de loucura”, escreveu Pascal. Deve ter pensado nisso a psiquiatra Karen Horney quando fez uma lista dos sintomas básicos da neurose, uma lista enorme, dela quase ninguém escapa. A loucura no cardápio. Basta ler e apontar, esta é a minha. Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas mais radicais».

«Tão difícil a vida e o seu ofício. E ninguém ao lado para receber a totalidade (ou parte) do fardo. Os analistas, caríssimos. (...) E por acaso é com o analista que se comenta a fita na saída do cinema? O livro? O sabor do vinho, esse gosto muito frisante, hein? E esta pele e esta língua... A minha tiazinha falava muito na falta que lhe fazia esse ombro amigo, apoio e diversão, envelheceu procurando um. Não achou nem o ombro nem as outras partes, o que a fez chorar sentidamente na hora da morte, Mas o que você quer, queridinha?! a gente perguntava. Está com alguma dor? Não, não era dor. Quer um padre? Não, não queria mais nenhum padre, chega de padre. Antes do último sopro, apertou desesperadamente a primeira mão ao alcance: “É que estou morrendo e não me diverti nada!”».

1 comentário:

Anónimo disse...

Qué interesante, cómo es esto de la literatura: de repente, encuentras en las palabras de una escritora lo que tú querías decir y no sabías. Me he quedado con ganas de más, gracias, Pedro, por estas islas literarias.