segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Acordo Ortográfico: Assinatura em dia de centenário de Machado de Assis é "glória" para Portugal e Brasil - Embaixador

Lisboa, 29 Set (Lusa) - O embaixador brasileiro Lauro Moreira considerou hoje uma "glória" para Portugal e Brasil o facto do dia da assinatura do decreto para promulgação do Acordo Ortográfico coincidir com o centenário da morte de Machado de Assis.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, assina hoje, no Rio de Janeiro, o decreto para promulgação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Em declarações à agência Lusa, à margem do colóquio Machado de Assis, que começou hoje na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, Lauro Moreira explicou que a data escolhida é simbólica, coincidindo com o aniversário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, que considera um dos escritores brasileiros mais "universais".

"O Presidente Lula da Silva aproveitou a comemoração do centenário da morte de Machado de Assis para assinar o decreto naquela que é a casa de Assis (a Academia Brasileira de Letras), fundada por ele", disse o embaixador.

Para Lauro Moreira, as resistências que ainda possam existir ao acordo ortográfico estão praticamente superadas.

"Todas as reformas ortográficas causam polémica, em qualquer época da história do nosso país, provocam reacções adversas porque terá de haver mudança", disse, referindo que o que interessa é a simplificação da língua.

Lauro Moreira lembrou à Lusa que em 1911 foi feita uma reforma ortográfica, simplificando a escrita da língua portuguesa.

"Infelizmente isso só foi comunicado ao Brasil à posteriori, ou seja, não foi negociado com o Brasil e por isso acabámos por ter uma bifurcação daquilo que foi sempre unido: a ortografia em língua portuguesa", disse.

O Brasil ficou então com uma "ortografia antiga e complicada e Portugal ficou com uma moderna", referiu o embaixador.

Lauro Moreira disse estar muito contente pelo acordo ter sido ratificado por Portugal, Brasil, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe.

"O que interessa é que vamos ter a terceira língua mais falada do mundo ocidental, que é uma língua de cultura, de novo a ser escrita", salientou.

Também à margem do colóquio Machado de Assis, o professor e linguista Carlos Reis disse à agência Lusa que a escolha deste dia pelo presidente Lula da Silva para assinar o acordo é "muito significativa e simbolicamente muito emotiva".

"Se Machado de Assis é um grande cultor da língua portuguesa e se nessa língua nós encontrarmos áreas de convergência linguística, cultural, literária, etc., não há melhor do que Machado de Assis para, de alguma maneira, ser o patrono deste gesto de aproximação", contou.

Sobre o colóquio, o professor Carlos Reis referiu ser um ponto de encontro de estudiosos brasileiros e portugueses em torno da obra de Machado de Assis, que considera ser mal conhecido em Portugal.

"Assis é um escritor complexo e extraordinário no sentido em que antecipou no seu tempo o que foi a grande narrativa europeia do século XX. Talvez um dos problemas de Machado de Assis tenha sido estar à frente do seu tempo", frisou.

O Acordo Ortográfico foi aprovado em Dezembro de 1990 por representantes de Portugal, Brasil, S. Tomé e Príncipe, Cabo verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, porque Timor-Leste só aderiu em 2004, após a independência da Indonésia.

Para vigorar, tem de estar ratificado por um mínimo de três dos oito países, o que foi alcançado em 2006 com S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Brasil, seguidos de Portugal, em Maio passado.

No Brasil o acordo será assinado hoje durante uma sessão solene na sede da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.

Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-09-29 12:40:07

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