quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Espanhol ainda é desvalorizado no turismo

Hoje, no Diário de Notícias

A par do Reino Unido, Espanha é já o principal país de origem dos turistas que visitam Portugal. Quanto aos excursionistas, visitantes que não se demoram mais de um dia, o domínio é completo. O DN foi saber se o mercado já se adaptou a esta realidade ou se basta o 'portunhol'

Espanhol ainda é desvalorizado no turismo

São cada vez mais os espanhóis que cruzam a fronteira para fazer turismo em Portugal. A par do Reino Unido, Espanha é já o país com maior número de entradas. Mas enquanto o inglês é considerado língua franca, o espanhol ainda fica muitas vezes atrás do francês e do alemão no ensino, mesmo nos cursos de turismo, e sobretudo nas informações disponibilizadas aos turistas.

Que os espanhóis são fundamentais, ninguém na área tem dúvidas. O secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, considera que se trata de "um mercado estratégico prioritário". É o segundo em termos de número de hóspedes, o terceiro a nível de dormidas - de Janeiro a Junho de 2008 registaram-se mais de um milhões de dormidas de espanhóis -, e o primeiro no excursionismo (cerca de 16 milhões de visitas por ano). O secretário de Estado salienta ainda que é um mercado com um elevado potencial de crescimento e com "particular importância na redução da sazonalidade da procura", já que os turistas do resto da Europa concentram-se sobretudo na época estival.

Para Carlos Costa, especialista em turismo da Universidade de Aveiro, o mercado espanhol é "muito, muito importante e não tem sido tratado como deve ser". Se, por um lado, a língua não funciona como barreira porque a proximidade entre o português e o espanhol torna a comunicação oral relativamente fácil, diz, quanto à informação escrita é fundamental disponibilizar material em espanhol. "Eles têm muita dificuldade em entender--nos, por isso, ao nível da informação escrita, é fundamental que seja dada em espanhol", diz.

A Secretaria de Estado diz que tem havido um "cuidado particular na comunicação, através da adaptação dos meios de promoção e no atendimento, quer telefónico, quer escrito, ao turista espanhol, no respectivo idioma", mas em muitos locais, como museus, ainda é difícil encontrar informação em espanhol.

Quanto ao ensino da língua nos cursos de turismo, Carlos Costa afirma que a principal razão para o espanhol não ser valorizado, ficando atrás do inglês e mesmo do francês e do alemão, é a semelhança com o português . "Nunca coloquei o ensino do espanhol como prioridade porque mesmo que os portugueses não saibam falar a língua, conseguem comunicar com os espanhóis". O professor explica que os alunos preferem escolher o francês ou o alemão, porque "sem aprendizagem não entenderiam nada".

Paulo Vaz, director da Escola de Hotelaria e Turismo de Lamego, salienta que a proximidade originou uma certa desvalorização do espanhol. "A ideia de que todos falamos a língua tem prejudicado a procura e consequentemente a oferta nos cursos de turismo", reconhece. No entanto, considera que o "portunhol" não basta, se queremos ter uma oferta de excelência.

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