quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Botellón" na ilha de Tavira abre polémica

"O presidente da Câmara de Tavira diz que a legislação espanhola empurrou para o Algarve o fenómeno de jovens a beber em grupo na rua. A Região de Turismo considera perigoso acusar especificamente o segundo maior cliente da região.

Vandalismo, desacatos, barulho a altas horas da noite e uma mão-cheia de comas alcoólicos pela manhã são as razões que levaram o presidente da Câmara de Tavira, Macário Correia, a apontar, ontem, o dedo aos milhares de jovens espanhóis que durante os meses de Verão rumam até ao Algarve - com particular incidência na ilha de Tavira - para a prática do "botellón", que consiste em comprar bebidas de alto teor alcoólico em supermercados e cafés e depois consumi-las em grupo e ao ar livre. "Todos as noites há vandalismo na ilha de Tavira", queixou-se, ao JN, Macário Correia

Mas já o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), António Pina, pede alguma contenção no tipo de acusações aos jovens espanhóis. "Percebo o problema do presidente da Câmara de Tavira, mas nunca faria uma acusação tão direccionada, até porque não será um problema exclusivo de determinada nacionalidade ou etnia". Nem será, também, uma questão que apenas afecte Tavira, acrescentou, dando exemplos de cidades como Portimão e Albufeira, ou mesmo outras ilhas da ria Formosa. Para António Pina, é preciso também "ter algum cuidado com o tipo de acusações que se faz aos turistas que vêm cá gastar dinheiro". A verdade é que os espanhóis são o segundo maior cliente (em dormidas) do Algarve, a seguir aos britânicos. E a promoção turística do Algarve em Espanha é uma aposta declarada: dos 6,8 milhões de euros disponíveis para promover, em 2008, a região pelo mundo, 750 mil euros (11%) estão a ser gastos no país vizinho.

"A verdade não pode significar qualquer penalização e o bom comportamento não escolhe nacionalidades", contrapõe Macário Correia. "Todos nós conhecemos a língua espanhola e todos os dias os serviços de recolha de lixo da Câmara, quando vão limpar a ilha de Tavira, deparam-se com vários jovens espanhóis em coma alcoólico, com o material de apoio à praia partido frequentemente, entre muitas outras situações", enumerou.

Muitos empresários de restauração da ilha de Tavira não concordam com as críticas aos jovens do país vizinho. Um responsável do restaurante "Zé Maria", que recusou identificar-se, explicou ao JN que "só estão a estragar o negócio na ilha, por causa da imposição de fecho à meia-noite, quando antes estávamos abertos até às duas". Diz a mesma fonte que "os espanhóis são os melhores clientes e não levantam qualquer problema".

Na ilha de Tavira, ninguém quis dar a cara por este assunto. Um cliente de um bar optou pelo anonimato para confirmar as queixas de Macário Correia: "A ilha está a bater no fundo por causa deles". "Os espanhóis que cá vêm nem podem ser chamados turistas. São antes uns invasores, pois trazem tudo com eles, não gastam dinheiro, fazem lixo e tristes figuras, e aproveitam para vender bebidas alcoólicas durante a noite", justifica.

Macário Correia atribui a causa desta vaga de espanhóis adeptos do "botellón" ao endurecimento da lei espanhola contra este fenómeno. Em 2006, foi aprovada a "Ley Antibotellón" na Andaluzia, que proíbe o uso de muitos locais para "botellón". O impacto em Espanha é tal que, em 2004, cerca de 70 mil jovens reuniram-se em Sevilha para um "macrobotellón". Já em Madrid, no ano passado, o bairro de Malasaña esteve dois dias em pé de guerra entre adeptos do "botellón" e a polícia, do que resultaram dezenas de feridos".

In Jornal de Notícias On-line

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