domingo, 25 de março de 2007

Poema de Catarina Nunes de Almeida


Não se esqueçam do nome dela porque leva muita poesia




A Prostituta da Rua da Glória
Tanges a noite sem saber que a noite

é uma cítara com cordas de ferro

onde os insectos ferem as asas.


O teu canto arranha o azul da chama

e a cidade desperta para a dança:

um labirinto de minotauros

sorvendo o odor do primeiro tango

–um ténue resquício de feno escondido na nuca.


Ainda ontem foi lua cheia no teu ventre.

Sobrou um aquário onde os cegos vêm depenicar

a caspa dos pombos.

Hoje não saias, deixa-te ficar.


Pelos corredores as fêmeas largam o pó

das florestas quentes

–ténues resquícios de feno escondidos na nuca.


Hoje não saias, deixa-te ficar.

Deixa dormir o teu sexo cansado de morrer.



2 comentários:

Pedro L. Cuadrado disse...

Concordo.

Anónimo disse...

Gostava de ler este poema no Estúdio Raposa. Como é que posso entrar em contacto com a autora?