1 uma noite bem dormida
2
o teu amor abraçar-te enquanto sonha a teu lado
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o sorriso das filhas
4
o sol a pôr-se por detrás do horizonte
5
as gaivotas que voam em terra quando um homem se põe a pensar
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uma mesa de amigos
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com bom vinho a regar a conversa
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aquele alívio matinal que regulariza as funções do corpo
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e deitares-te na banheira enquanto a água sobe
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sobe sobe até ficares submerso
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ateares o fogo na lareira numa noite de Inverno
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um chouriço assado
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mergulhares na água salgada de Verão
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andar a pé
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ou simplesmente caminhar, subindo e descendo
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arribas, falésias, montes, serras
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o som dos passos enquanto caminhas
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e a flora à volta dos teus passos
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pássaros, grilos, cigarras
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as queimadas no Outono, pão lêvedo das Furnas barrado com queijo da serra
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o primeiro cheiro da lenha a arder pairando no ar
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rosmaninho
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reencontrar um amigo que julgávamos perdido
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rir
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dançar
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ou rir e dançar ao mesmo tempo
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chorar, também, que atenua a dor
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um bom western
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um bom filme, os tomates do Rogil
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os livros, sobretudo aqueles que ainda não leste
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e aquela frase
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uma brisa ligeira no coração da canícula
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viajar
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as miragens no deserto
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uma aurora boreal
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estrelas cadentes
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livros antigos e cartas escritas à mão
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os álbuns de família em sépia
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tigres de Bengala, gorilas do Congo
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e todos os animais selvagens em vias de extinção
41
a Floresta Amazónia, o Grand Canyon, as Cataratas do Niágara42 essa ideia de Tibete que urge preservar
43 Mandela e o mantra entoado pelo corpo do Lama
44 o hino nacional entoado pela selecção de rugby
45 uma boa peça de fruta
46 um café e um cigarro
47 bagaço
48 um velho que te conta uma história
49 uma criança que te faz uma pergunta inusitada
50 poderes ignorar os teus inimigos e desprezar seu mau olhado
51 andar ao acaso numa cidade e vislumbrar o que sempre passa despercebido
52 abraçar calorosamente quem amamos
53 a paixão quando menos se espera
54 e o desejo satisfeito sem horas nem horários
55 massagem ayurvédica
56 a chamada das mesquitas nas cidades árabes
57 mercados árabes, bazares e as Festas do Povo em Campo Maior
58 aprender a montar
59 pescar
60 consolar os ouvidos com o silêncio
61 e espantares-te, de vez em quando, com um feito humano (o Vale do Coa)
62 ouvir alguém pronunciar o teu nome com gratidão
63 o mundo sem fim da poesia
64 mitologia grega
65 hermetismo árabe
66 o terrorismo poético de Hakim Bey, o nomadismo intelectual de Kenneth White e o hedonismo libertário de Michel Onfray iluminados pela candeia de Diógenes de Sínope
67 mas sobretudo os livros de Bruce Chatwin, Albert Camus, Henry David Thoreau e Michaux, Malcolm Lowry, Stevenson e Melville
68 os poetas irlandeses
69 Rimbaud, Baudelaire, surrealismo a conta-gotas, o dadaísmo, todo o Duchamp
70 e o teatro da crueldade de Antonin Artaud
71 as canções do José Afonso e a guitarra do Carlos Paredes
72 a voz de Amália
73 entre outras (Umm Kulthum ou Nusrat Fateh Ali Khan)
74 e andar por aí a esmo respigando o maná das musas
75 Nicanor Parra, Vicente Huidobro (a sua história de amor)
76 os quadros de Van Gogh e as Pirâmides de Gizê
77 música brasileira, mais que todas a bossa nova
78 jazz norte-americano, o silêncio na Ordem dos Cartuxos
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ia-me esquecendo de Walt Whitman
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e a poeira levantando-se na estrada larga
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enquanto uma lufada de vento nos inclina o corpo
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deixando-nos impotentes à sua passagem
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uma fogueira ateada
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um índio que canta
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tambores africanos
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o didjeridu dos aborígenes
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e alguém que te dá a ler Jean-Marie
Le Clézio
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quebrares o gelo, afagares a pedra
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saberes estar calado quando o silêncio é devido
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contar carneiros pelos dedos
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tocar Era um Redondo Vocábulo na guitarra
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sentindo cada nota como uma batida do coração
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partilhar
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e falar com os mortos numa linguagem muito nossa
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enquanto a ideia de Deus ganha forma numa paisagem admirável
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matar a sede numa fonte de água pura
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colher fruta pelo caminho
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semear qualquer coisa de nosso
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para que outros possam colher
100
chegar a este ponto com a sensação de que facilmente enunciaria mais
101 razões para continuar
101 razões para continuar
1 comentário:
Em suma, manter-se vivo e fazendo coisas boas é a melhor razão para se manter vivo.
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