domingo, 12 de maio de 2013

100 RAZÕES PARA TE MANTERES VIVO




1 uma noite bem dormida
2 o teu amor abraçar-te enquanto sonha a teu lado
3 o sorriso das filhas
4 o sol a pôr-se por detrás do horizonte
5 as gaivotas que voam em terra quando um homem se põe a pensar
6 uma mesa de amigos
7 com bom vinho a regar a conversa
8 aquele alívio matinal que regulariza as funções do corpo
9 e deitares-te na banheira enquanto a água sobe
10 sobe sobe até ficares submerso
11 ateares o fogo na lareira numa noite de Inverno
12 um chouriço assado
13 mergulhares na água salgada de Verão
14 andar a pé
15 ou simplesmente caminhar, subindo e descendo
16 arribas, falésias, montes, serras
17 o som dos passos enquanto caminhas
18 e a flora à volta dos teus passos
19 pássaros, grilos, cigarras
20 as queimadas no Outono, pão lêvedo das Furnas barrado com queijo da serra
21 o primeiro cheiro da lenha a arder pairando no ar
22 rosmaninho
23 reencontrar um amigo que julgávamos perdido
24 rir
25 dançar
26 ou rir e dançar ao mesmo tempo
27 chorar, também, que atenua a dor
28 um bom western
29 um bom filme, os tomates do Rogil
30 os livros, sobretudo aqueles que ainda não leste
31 e aquela frase
32 uma brisa ligeira no coração da canícula
33 viajar
34 as miragens no deserto
35 uma aurora boreal
36 estrelas cadentes
37 livros antigos e cartas escritas à mão
38 os álbuns de família em sépia
39 tigres de Bengala, gorilas do Congo
40 e todos os animais selvagens em vias de extinção
41 a Floresta Amazónia, o Grand Canyon, as Cataratas do Niágara
42 essa ideia de Tibete que urge preservar
43 Mandela e o mantra entoado pelo corpo do Lama
44 o hino nacional entoado pela selecção de rugby
45 uma boa peça de fruta
46 um café e um cigarro
47 bagaço
48 um velho que te conta uma história
49 uma criança que te faz uma pergunta inusitada
50 poderes ignorar os teus inimigos e desprezar seu mau olhado
51 andar ao acaso numa cidade e vislumbrar o que sempre passa despercebido
52 abraçar calorosamente quem amamos
53 a paixão quando menos se espera
54 e o desejo satisfeito sem horas nem horários
55 massagem ayurvédica
56 a chamada das mesquitas nas cidades árabes
57 mercados árabes, bazares e as Festas do Povo em Campo Maior
58 aprender a montar
59 pescar
60 consolar os ouvidos com o silêncio
61 e espantares-te, de vez em quando, com um feito humano (o Vale do Coa)
62 ouvir alguém pronunciar o teu nome com gratidão
63 o mundo sem fim da poesia
64 mitologia grega
65 hermetismo árabe
66 o terrorismo poético de Hakim Bey, o nomadismo intelectual de Kenneth White e o hedonismo libertário de Michel Onfray  iluminados pela candeia de Diógenes de Sínope
67 mas sobretudo os livros de Bruce Chatwin, Albert Camus, Henry David Thoreau e Michaux, Malcolm Lowry, Stevenson e Melville
68 os poetas irlandeses
69 Rimbaud, Baudelaire, surrealismo a conta-gotas, o dadaísmo, todo o Duchamp
70 e o teatro da crueldade de Antonin Artaud
71 as canções do José Afonso e a guitarra do Carlos Paredes
72 a voz de Amália
73 entre outras (Umm Kulthum ou Nusrat Fateh Ali Khan)
74 e andar por aí a esmo respigando o maná das musas
75 Nicanor Parra, Vicente Huidobro (a sua história de amor)
76 os quadros de Van Gogh e as Pirâmides de Gizê
77 música brasileira, mais que todas a bossa nova
78 jazz norte-americano, o silêncio na Ordem dos Cartuxos
79 ia-me esquecendo de Walt Whitman
80 e a poeira levantando-se na estrada larga
81 enquanto uma lufada de vento nos inclina o corpo
82 deixando-nos impotentes à sua passagem
83 uma fogueira ateada
84 um índio que canta
85 tambores africanos
86 o didjeridu dos aborígenes
87 e alguém que te dá a ler Jean-Marie Le Clézio
88 quebrares o gelo, afagares a pedra
89 saberes estar calado quando o silêncio é devido
90 contar carneiros pelos dedos
91 tocar Era um Redondo Vocábulo na guitarra
92 sentindo cada nota como uma batida do coração
93 partilhar
94 e falar com os mortos numa linguagem muito nossa
95 enquanto a ideia de Deus ganha forma numa paisagem admirável
96 matar a sede numa fonte de água pura
97 colher fruta pelo caminho
98 semear qualquer coisa de nosso
99 para que outros possam colher
100 chegar a este ponto com a sensação de que facilmente enunciaria mais
101 razões para continuar


hmbf no seu blogue antologia do esquecimento



1 comentário:

My Brave True Hero disse...

Em suma, manter-se vivo e fazendo coisas boas é a melhor razão para se manter vivo.