segunda-feira, 12 de março de 2007

Um poema de David Mourão-Ferreira


TESEU, AO TELEFONE

Labirinto de néon e de vento,
noite por estas ruas, sob a chuva...
Na cabina telefónica procuro,
entre milhares de fios, um somente.

Com seu corpo de touro, a tempestade,
com seu rosto de gente, a tentação,
já nas esquinas lóbregas travaram,
comigo, corpo-a-corpo, tal combate

que somente encontrando aquele fio,
o da voz de Ariana, poderei
reconduzir-me inteiro ao meu destino.

E através deste círculo de números
vou tentando o acesso ao parapeito
- que daqui se não vê, porque está escuro.


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