terça-feira, 13 de março de 2007

Raduan Nassar


La vida, hecha tantas veces de casualidades, ha puesto, por medio de una de ellas, el nombre y una de las mejores obras del brasileño Raduan Nassar en mis manos. Vayan, pues, algunas palabras sobre él, y lo mejor, algunas palabras del autor de Lavoura arcaica.

O escritor Raduan Nassar nasceu em Pindorama, no estado de Sao Pãulo, em 1935, filho de imigrantes libaneses. Na adolescência, foi para São Paulo com a família, onde cursou Direito e Filosofia na USP. Estreou na literatura no ano de 1975, com o romance Lavoura Arcaica. Em 1978 é publicada a novela Um copo de cólera (escrita em 1970). Após a sua estréia na literatura, Nassar deixou de escrever em 1984 e vive hoje em um sítio em sua cidade natal. Em 1997, é publicada a obra Menina a caminho, reunindo seus contos dos anos 60 e 70. Com apenas três romances publicados é considerado pela crítica como um grande escritor e comparado a nomes consagrados da literatura brasileira como Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Tudo isso graças à extraordinária qualidade de sua linguagem e força poética da sua prosa. Cultuado por um pequeno círculo de leitores, Raduan se tornou mais conhecido pelo público em geral com as versões cinematográficas de Um copo de cólera (1995) e Lavoura Arcaica (2001).

Que rostos mais coalhados, nossos rostos adolescentes em volta daquela mesa: o pai à cabeceira, o relógio de parede às suas costas, cada palavra sua ponderada pelo pêndulo, e nada naqueles tempos nos distraindo tanto como os sinos graves marcando as horas: "O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia; existe tempo nas cadeiras onde nos sentamos, nos outros móveis da família, nas paredes da nossa casa, na água que bebemos, na terra que fecunda, na semente que germina, nos frutos que colhemos, no pão em cima da mesa, na massa fértil dos nossos corpos, na luz que nos ilumina, nas coisas que nos passam pela cabeça, no pó que dissemina, assim como em tudo que nos rodeia; rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; por isso, ninguém em nossa casa há de dar nunca o passo mais largo que a perna: dar o passo mais largo que a perna é o mesmo que suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa; e ninguém em nossa casa há de colocar nunca o carro à frente dos bois: colocar o carro à frente dos bois é o mesmo que retirar a quantidade de tempo que um empreendimento exige; e ninguém ainda em nossa casa há de começar nunca as coisas pelo teto: começar as coisas pelo teto é o mesmo que eliminar o tempo que se levaria para erguer os alicerces e as paredes de uma casa; (…)


(Fonte dos dados biobliográficos: Wikipédia)

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