segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Surge Janeiro frio e pardacento (José Régio)


 


Atuais estes versos de José Régio. É só mudar as quantias


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele… e da nação.

José Régio, 1969


(Obrigado ao Luís Neves, que me deu a conhecer este soneto)



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