sábado, 15 de setembro de 2012

Forma de inocência (António Gedeão)

Ainda somos os mesmos... - Fotografia de Otávio Nogueira (deltafrut)



FORMA DE INOCÊNCIA

Hei-de morrer inocente
exactamente
como nasci.
Sem nunca ter descoberto
o que há de falso ou de certo
no que vi.

Entre mim e a Evidência
paira uma névoa cinzenta.
Uma forma de inocência,
que apoquenta.

Mais que apoquenta:
enregela
como um gume
vertical.
E uma espécie de ciúme
de não poder ser igual.

António Gedeão


Movimento perpétuo (1956)


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