terça-feira, 27 de julho de 2010

Admirável mundo novo



Hoje percorri o bairro dos meus pais como não fazia há muito. É um bairro que não é bem um bairro, entalado que fica entre a Madragoa e outro (o Alto). Nos últimos anos transformou-se quase beyond recognition e acho que só hoje percebi quão poucas lojas são as mesmas de quando lá chegámos. Em 1984, a menos de cinco minutos de casa tínhamos uma chapelaria (agora vazia), um correeiro (tornado loja de molduras de revigrés reluzente no chão), onde ia aplicar molas e ilhoses nos empreendimentos crafty da época, um grande armazém de louças e plásticos (agora loja de quinquilharias sazonais), várias lojas de pronto-a-vestir (agora lojas chinesas e dos 300), ourivesarias, padarias, inúmeras mercearias (umas mais especializadas que outras), sapatarias, duas drogarias (a que não fechou é a única loja da zona cujo interior ainda não foi destruído), farmácias, o fotógrafo do bairro (grande resistente), carpintarias, retrosarias, um alfarrabista (outro que sobrevive), barbearias, papelarias, confeitarias, etc. Na altura só a Chapelaria Royal parecia condenada. Tento recordar cada uma das novas lojas por onde passei hoje (produtos naturais, decoração, bijuterias, agência de viagens, loja dos trezentos, loja chinesa, loja chinesa, loja dos trezentos) e das velhas também (loja de roupa de homem em liquidação total, loja de roupa a fechar, loja fechada, loja fechada, electricista empoeirado, tasca, papelaria fechada, loja de velharias feita agência imobiliária, quinquilharia, loja chinesa) e perceber como pode ser que a maior parte daquele novo comércio tradicional seja agora o do absolutamente inútil (brindes, quinquilharia, decoração, fonte a pilhas, flor de plástico, peluche piroso, pastilha elástica).


Lido no blogue a ervilha cor de rosa




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