O Céu de Suely- isso é cinema. Cid Nader
Bastante prestigiado e aclamado por seu longa de estréia, “Madame Satã”, o diretor Karim Aïnouz abriu caminhos facilitadores para a apreciação de novas obras suas por parte dos críticos e de uma cinefilia mais “engajada”. Um perigo ser adorado e pré-avaliado por histórico tão curto; por currículo tão exíguo – bastante comum casos sucedidos de “diretor de uma obra só”. Mais ainda – para mim -, pelo fato de seu “mitológico” filme de estréia, não ser merecedor de tantos elogios e divagações com os quais foi agraciado e abençoado. “Madame Satã” tem alguns grandes méritos – evidentes, principalmente, por se tratar de filme inicial -, mas está longe de ser obra excepcional, por um certo medo em sua contextualização definitiva. Pode parecer insano de minha parte impingir a um filme tão “ousado” – ou a seu diretor - a palavra medo: mas é justamente isso o que mais me chamou na atenção ao final, quando constatei – ou imaginei constatar – que a virulência imagética adotada na construção impediu que o contexto da história e do personagem tomasse uma verdadeira posição de importância imprescindível, afastando as razões e “essências” a serem reveladas, e exploradas, de uma visita mais aprofundada, conseqüentemente reveladora, por parte do público, e deixando como marca um verniz um tanto ralo das atuações espalhafatosas e ousadas. O que quero dizer é que toda uma construção formalista muito bem sacada e concretizada se fez de importância superior às motivações, pensamentos e razões de atitudes do famoso bandido homossexual carioca.
Só que Karim jogou ao chão meus temores e confirmou credibilidade àqueles mais entusiasmados do que eu com essa sua nova obra, “O Céu de Suely”. Toda a sua potencialidade, presumível – mais desejada, seria o mais correto - pelo primeiro trabalho, comparece tinindo agora, com um diretor visivelmente mais amadurecido, menos “gratuitamente pirotécnico”, confirmando ser uma das grandes revelações no mundo das artes brasileiras – trabalha em outros setores das artes, também, o moço. O filme é um primor de realização, com suas soluções estéticas bem idealizadas e concluídas, num arremate das idéias emprestadas à trama digno da complexidade da história. Contando com a atuação surpreendente da novata Hermila Guedes e do já conhecido, contido e maravilhoso ator, João Miguel, o diretor já se “garantiu” de cara no importante quesito das atuações, com – também - ajustadíssimas composições dos coadjuvantes, corretos e bem delineados, desde a veterana Marcélia Cartaxo até o pequeno filho de Hermila, que tem suas reações devidamente transferidas e bem utilizadas para a proposta do filme.
Contar a volta do nordestino à sua terra, voltando da grande cidade (São Paulo, no caso), parece ser a grande novidade que um grupo de cineastas da região resolveu tornar mote condutor de suas histórias. Karim foi extremamente feliz quando construiu uma personagem que volta com sinceras esperanças de um recomeço, mas que percebe aos poucos que nada é tão fácil, nunca, que sofrer parece parte inerente da condição humana. Como lidar com isso? A resposta encontrada pelo diretor é de uma singularidade única: quando percebe que seu destino ainda está em fase de formação – longe da acomodação -, Hermila imagina um paraíso muito particular como a solução mais à mão para o período mais breve e próximo. No meio dessas mudanças surge e ganha corpo a figura de João Miguel, que acompanhará a busca de sua amada/pretendida – sim, ela é sua amada – de maneira calma, interrompida uma única vez por um belo momento de “explosão” apaixonada. Os espaços – algo vasto e agressivamente óbvio ao olhar do estrangeiro – grandes e devastados da região são filmados de maneira reverencial, com amplas tomadas de câmera e sutis mudanças na granulação. Já os corpos são filmados de perto, muito próximos, com extrema valorização dos detalhes; como um convite para que fossem tocados por nós.
Um momento em que câmera acompanha – de ré – o caminhar de Hermila e de João, que vem em sua “perseguição”, poderia servir de exemplo concreto para o exercício de “pirotecnia” sem gratuidade. A cena final, grandiosa e demorada em sua conclusão, é bela a não mais poder. E mais, durante o seu transcorrer, oferece à nossa imaginação diferentes possibilidades para seu desfecho, sendo que qualquer uma resultaria maravilhosa, tanto quanto foi maravilhosa a escolhida pelo próprio diretor. Karim Aïnouz já é uma realidade – devo admitir. Cinequanon
Só que Karim jogou ao chão meus temores e confirmou credibilidade àqueles mais entusiasmados do que eu com essa sua nova obra, “O Céu de Suely”. Toda a sua potencialidade, presumível – mais desejada, seria o mais correto - pelo primeiro trabalho, comparece tinindo agora, com um diretor visivelmente mais amadurecido, menos “gratuitamente pirotécnico”, confirmando ser uma das grandes revelações no mundo das artes brasileiras – trabalha em outros setores das artes, também, o moço. O filme é um primor de realização, com suas soluções estéticas bem idealizadas e concluídas, num arremate das idéias emprestadas à trama digno da complexidade da história. Contando com a atuação surpreendente da novata Hermila Guedes e do já conhecido, contido e maravilhoso ator, João Miguel, o diretor já se “garantiu” de cara no importante quesito das atuações, com – também - ajustadíssimas composições dos coadjuvantes, corretos e bem delineados, desde a veterana Marcélia Cartaxo até o pequeno filho de Hermila, que tem suas reações devidamente transferidas e bem utilizadas para a proposta do filme.
Contar a volta do nordestino à sua terra, voltando da grande cidade (São Paulo, no caso), parece ser a grande novidade que um grupo de cineastas da região resolveu tornar mote condutor de suas histórias. Karim foi extremamente feliz quando construiu uma personagem que volta com sinceras esperanças de um recomeço, mas que percebe aos poucos que nada é tão fácil, nunca, que sofrer parece parte inerente da condição humana. Como lidar com isso? A resposta encontrada pelo diretor é de uma singularidade única: quando percebe que seu destino ainda está em fase de formação – longe da acomodação -, Hermila imagina um paraíso muito particular como a solução mais à mão para o período mais breve e próximo. No meio dessas mudanças surge e ganha corpo a figura de João Miguel, que acompanhará a busca de sua amada/pretendida – sim, ela é sua amada – de maneira calma, interrompida uma única vez por um belo momento de “explosão” apaixonada. Os espaços – algo vasto e agressivamente óbvio ao olhar do estrangeiro – grandes e devastados da região são filmados de maneira reverencial, com amplas tomadas de câmera e sutis mudanças na granulação. Já os corpos são filmados de perto, muito próximos, com extrema valorização dos detalhes; como um convite para que fossem tocados por nós.
Um momento em que câmera acompanha – de ré – o caminhar de Hermila e de João, que vem em sua “perseguição”, poderia servir de exemplo concreto para o exercício de “pirotecnia” sem gratuidade. A cena final, grandiosa e demorada em sua conclusão, é bela a não mais poder. E mais, durante o seu transcorrer, oferece à nossa imaginação diferentes possibilidades para seu desfecho, sendo que qualquer uma resultaria maravilhosa, tanto quanto foi maravilhosa a escolhida pelo próprio diretor. Karim Aïnouz já é uma realidade – devo admitir. Cinequanon
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