domingo, 21 de dezembro de 2008

Dor elegante


O brasileiro Paulo Leminski escreveu este poema, Itamar Assumpção compôs a música e Zélia Duncan cantou.


Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Ela é tudo que me sobra
Viver vai ser a nossa última obra



Cá podemos ver e ouvir Zélia Duncan, de guitarra na mão, a cantar os versos de Leminski.


terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ensinar através da arte... "Fados" de Carlos Saura

Saiu há menos de um mês a edição em DVD do filme “Fados” do espanhol Carlos Saura. Edição essa que é um autêntico luxo, com extras e com um livro de imagens que ficaram para a posteridade aquando da realização do mesmo.

Pessoalmente, creio que estamos perante uma obra notável, de acordo com uma óptica lúcida, à parte de polémicas “fadistas” (quer da sua história ou do seu conservadorismo estético), de alguém que leva o fado nas veias sem ter nascido em território lusófono. Devo mesmo dizer que tem imagens tão impactantes como a própria música que dá título à obra de Saura. Mas, apesar de ter como consultores nomes tão notáveis da música portuguesa e da musicologia lusa, como Carlos do Carmo e Rui Vieira Nery, respectivamente, peca por não aludir a um fado também marcante, menos rústico, mais romantizado, mais dos exteriores e das serenatas, forte em emoções e digno de criticar o seu “sexismo” (a tradição diz que só pode ser cantado por homens), isto é, o fado de Coimbra.

Já que se trata de uma obra arrojada, livre e imbuída de influências e experiências, e, uma vez que Mariza já se atreveu a desafiar o instituído, cantando, desafiando a tradição imutável, um fado à moda da cidade à beira do Mondego.

Longe de ser uma crítica, dado que poucos se atrevem a abordar o fado como algo para além do que os anos (desde o século XIX, passando pelo fascismo, revolução de Abril até hoje) e a sociedade vem instituindo como canção nacional, vejo mais mérito que demérito por parte de Saura que, uma vez mais, provou ser um excelente cineasta a quem temas polémicos não põem medo.

Enquanto obra para utilizar no contexto das aulas de língua e cultura portuguesa (que talvez um dia se chamará lusófona) é uma excelente oportunidade para ensinar através da arte, ao som de notas musicais e de passos de dança moderna e experimental, tudo isto com uma fotografia original, intimista, forte em expressões e ideias.

Já o pude comprovar, utilizando-o num contexto de aulas em “Bachillerato”, mesmo que não seja do agrado de todos, a música tende a exprimir-se de uma forma universal, a atingir até o ser mais insensível, algo que, apesar de nunca ter acreditado que sim, o fado faz. Como me habituei a pensar, algo fica, por pouco que seja… ou muito... quem sabe?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Auto-retrato aos 56 anos (Graciliano Ramos)


Graciliano Ramos (1892-1953)  escreveu este Auto-retrato aos 56 anos:


Nasceu em 1892, em Quebrangulo, Alagoas.
Casado duas vezes, tem sete filhos.
Altura 1,75.
Sapato n.º 41.
Colarinho n.º 39.
Prefere não andar.
Não gosta de vizinhos.
Detesta rádio, telefone e campainhas.
Tem horror às pessoas que falam alto.
Usa óculos. Meio calvo.
Não tem preferência por nenhuma comida.
Não gosta de frutas nem de doces.
Indiferente à música.
Sua leitura predileta: a Bíblia.
Escreveu “Caetés” com 34 anos de idade.
Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados.
Gosta de beber aguardente.
É ateu. Indiferente à Academia.
Odeia a burguesia. Adora crianças.
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.
Gosta de palavrões escritos e falados.
Deseja a morte do capitalismo.
Escreveu seus livros pela manhã.
Fuma cigarros “Selma” (três maços por dia).
É inspetor de ensino, trabalha no “Correio da Manhã”.
Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo.
Só tem cinco ternos de roupa, estragados.
Refaz seus romances várias vezes.
Esteve preso duas vezes.
É-lhe indiferente estar preso ou solto.
Escreve à mão
Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.
Tem poucas dívidas.
Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas.
Espera morrer com 57 anos.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

VI Encontro de Teatro Ibérico iniciou-se ontem em Évora

"O VI Encontro de Teatro Ibérico que começou ontem, no Teatro Garcia de Resende, e que vai decorrer até ao próximo domingo, estreou a nova peça do Cendrev, denominada Antígona Gelada de Armando Nascimento Rosa. Este evento, organizado pelo Centro Dramático de Évora (Cendrev) e pelo Fórum Teatral Ibérico com os apoios do Gabinete de Iniciativas Transfronteiriças e da Câmara Municipal de Évora em colaboração com o Instituto Internacional del Teatro del Mediterrâneo (Madrid), é único no seu género na Península Ibérica. Ano após ano tem reunido, em Évora, profissionais das diversas valências com que se faz a arte teatral, provenientes de Espanha e de Portugal. De acordo com José Russo, director do Cendrev, este ano a grande aposta é motivar a criação dramatúrgica recente oriunda de ambos os países. Novos dramaturgos, textos diferentes que narram estórias de hoje e da sociedade e a exibição de alguns trabalhos fílmicos sobre artes performativas são as novidades desta sexta edição".

A intenção é estupenda, ainda não vi o programa e espero que estejam presentes grupos de teatro oriundos da Extremadura!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Homenaje a Ángel Campos Pámpano

Su biografía en Wikipedia.

sé que mientras pueda decirte
no habrá olvido
que del espacio de tu nombre
ha de brotar
abiertas sus dos sílabas
la semilla en la nieve



Son muchos los sitios de Internet que recogen la triste noticia de la muerte de Ángel Campos. Como homenaje, recogemos aquí algunos:

SUS AMIGOS

PRENSA ESPAÑOLA
PRENSA PORTUGUESA


BLOGS
Recopilación de noticias de Fátima Bello sobre el Premio Eduardo Lourenço concedido a Ángel Campos.


Ángel Campos en el Hoy (recopilación de Juan Mayo):