quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Novembro! (Miguel Esteves Cardoso)



Novembro!

É Novembro. Vá à janela. Espante-se. Novembro é o mês das belezas inesperadas. Ensina-nos a inesperar: a deixarmos de andar de acordo com os nossos preconceitos.

Herberto Helder nasceu em Novembro em 1930 e começou um poema com o mês de Novembro. Novembro confunde. É um mês que não regula bem do céu. É levado da breca. Vá à janela: surpreenda-se. Não é só não custar nada: custa muito despedirmo-nos dele. Aproveite enquanto puder.

Outubro foi o primeiro mês só de Outono. Nota-se pelas letras que partilham. Mas Novembro é o mês em que o Outono é levado a sério, como o último mês bonito do ano.

Novembro é o mês das castanhas, das amêndoas e das nozes. Apareceram antes - tal como o Outono, ridiculamente nos finados de Setembro - mas só em Novembro é que fazem sentido. É o mês de assá-las, abri-las e comê-las.

Se quisermos que esteja frio, está frio. Se quisermos que chova, chove. Mas nunca - nem de longe - é Inverno. Novembro é tão avariado da pinha que permite falar-se, sem fazer disparar metralhadoras de risos, no "verão de São Martinho".

Novembro é o mês quente de mais para a água-pé, que todos os alcoólicos regular e tipicamente denunciam, dado o baixo teor de álcool da mistela, como não sendo digna de atenção.

Novembro é o Junho da segunda metade do ano. É um prazer e o princípio de uma liberdade condicional de 7 semanas, antes de começar, 4 dias antes do dia de Natal, a única estação do ano que é verdadeiramente insuportável: o Inverno.

Miguel Esteves Cardoso


Publicado no diário Público (3-11-2015)

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