segunda-feira, 22 de maio de 2006

Jogo do Pau Português


No Sábado que passou assisti, fazendo parte da comissão organizadora, a uma demonstração do "jogo do pau" português. Uma arte marcial "tuga", dinâmica, eficaz, brutal, mas simplesmente digna de perpetuar na nossa cultura à semelhança do que se passa com as artes marciais orientais. Infelizmente parece estar condenado à extinção, no entanto, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não, como o Mestre Paulo e o Núcleo do Jogo do Pau da Moita que nos prendou com uma manifestação cultural da qual me orgulho e que gostava que fosse divulgada.
A adesão foi pouca, ao mesmo tempo Évora estava a receber os discípulos milionários de Scolari e o Jogo do Pau nunca há-de mover interesses milionários. Este é o Portugal que temos... uma "vara no lombo" talvez não lhe fizesse mal...

Um pouco de história...
"Em muitas sociedades a espada desenvolveu-se como uma arma à qual era atribuído um carácter sagrado, sendo o seu porte apanágio apenas da classe da nobreza guerreira. Ao povo era interdito ou dificultado o seu uso, pelo que este aperfeiçoava habitualmente sistemas de combate alternativos, de mãos nuas ou com recurso às ferramentas do dia-a-dia. Quem está familiarizado com a história do surgimento do karaté (que significa “mãos nuas” em japonês) em Okinawa sabe que se desenvolveu em paralelo o kobudo, que inclui técnicas de uso de foices, paus, matracas que eram usadas como malho, etc... Era com este arsenal que o camponês ou pescador podia defrontar quando necessário os orgulhosos ocupantes samurais, armados com catanas e outras armas de guerra. Também em Portugal o povo desenvolveu um sistema de combate usando como arma o cajado que acompanhava para todo o lado, até há poucos anos, os pastores e camponeses. Este sistema veio a ser conhecido pelo nome de Jogo do Pau, tendo aqui a palavra “jogo” não o sentido de “brincadeira”, mas o de “técnica” ou “manejo”.
Já bem dentro do século XX eram ainda frequentes por Portugal inteiro, mas com destaque para o norte do país, os combates de pau nas feiras e romarias. Por vezes envolviam estas rixas aldeias inteiras, outras vezes as lutas eram individuais, ou de um jogador contra vários. Era o tempo dos “puxadores” (nome que se dava aos jogadores do Norte) e dos “varredores de feiras” (jogadores afamados que se deslocavam às feiras e romarias para desafiarem outros, provando assim o seu valor através da vitória contra todos). Mestre Monteiro, originário da região de Fafe, conta que no tempo da juventude de seu pai havia duas povoações que frequentavam ao Domingo a mesma capela, levando, como era de tradição, cada homem ou moço a sua vara, de tal forma que quando se ajoelhavam na missa se viam todos os paus em posição vertical saindo acima das cabeças. Depois da cerimónia era frequente, num largo ali perto, haver conflitos entre os rapazes das duas aldeias, que começavam por qualquer pequena razão (um piropo a uma rapariga da aldeia vizinha, os ciúmes de um enamorado preterido por outro, uma discussão por causa de canais de irrigação...) e que se resolviam à paulada.
Mas não se pense que era o combate destituído de regras. Havia um código ético, que proibia aos lutadores baterem em homem que não levasse pau, ou que estivesse por terra. Ainda se contam nos círculos da modalidade histórias antigas como a do “Manilha”, que depois de vencer e desarmar três atacantes que o haviam emboscado, atirou o pau ao chão. Ou a de um jogador de grande talento do Porto, chamado Carvalho, feirante de gado, que na Feira dos 26 em Angeja, perto de Aveiro, conseguiu aguentar-se sozinho contra um grupo que o atacava, até que tropeçou e caiu para o chão, e nessa altura o melhor jogador dos adversários saltou para o seu lado, pronto a defendê-lo, dizendo aos seus companheiros que quem pretendesse bater no valente caído tinha que lutar primeiro consigo. Também na literatura podemos encontrar histórias sobre o jogo do pau, nomeadamente em autores como Aquilino Ribeiro e Miguel Torga. A partir dos anos 30 o jogo do pau começou a perder importância. Os motivos são vários: a acção das autoridades policiais, que para evitar lutas sangrentas passaram a proibir o uso dos paus dentro dos recintos das feiras; a emigração de muitos homens para os meios urbanos ou para o estrangeiro; a generalização do uso de armas de fogo, que tornou desnecessária a aprendizagem demorada e difícil desta técnica para a defesa pessoal.
Em Lisboa, praticava-se já então, principalmente a partir do século XIX, um estilo próprio, desenvolvido nos quintais da capital e em clubes como o Ateneu Comercial de Lisboa e o Real Ginásio, que depois veio a ser o Ginásio Clube Português, nos quais ainda hoje se ensina esta arte. Surgem duas grandes Escolas, diferenciadas tecnicamente e com base em factores histórico-sociais: a Escola do Norte e a Escola de Lisboa (também praticada no Ribatejo e Estremadura). Esta última desenvolveu uma série de inovações técnicas e passou a dar menos importância ao combate contra vários adversários.
Ao longo da história do jogo do pau foram muitos os mestres que deixaram fama pelas diferentes regiões do país. Citemos alguns: Mestre António Nunes Caçador, Mestre Frederico Hopffer, Mestre Júlio Hopffer, Mestre Joaquim Baú, Mestres Calado Campos, pai e filho, Mestre Chula, Mestre Custódio Neves, Mestre Pedro Ferreira, Mestre Elias Gameiro, Mestre Nuno Russo, Mestre Manuel Monteiro, e um largo etc... O nome de Mestre Pedro Ferreira (n. 26 de Março de 1915 – f. 24 de Setembro de 1996) destaca-se pelo extraordinário desenvolvimento técnico que levou a cabo, combinando as Escolas do Norte e de Lisboa, de ambas profundo conhecedor. Foram seus discípulos muitos dos actuais mestres em actividade. Continuou a jogar o pau durante toda a sua vida, sendo considerado um dos mais exímios jogadores até ao seu falecimento. Era ele o Mestre do Ateneu Comercial de Lisboa, tendo nos últimos anos passado essa responsabilidade para o Mestre Manuel Monteiro, seu sucessor.

O Jogo do Pau começou um processo de organização a nível nacional com a fundação, em 1977, sob impulso de Mestre Pedro Ferreira, da Associação Portuguesa de Jogo do Pau. As várias escolas e clubes estão hoje organizadas numa estrutura representativa, a Federação Portuguesa de Jogo do Pau. Como testemunho da qualidade técnica deste sistema, é de mencionar que nos campeonatos abertos de lutas com pau comprido realizados em França na década de 80, com a presença de sistemas de combate do Japão, Vietname, França, e de outras nações, os jogadores do pau portugueses foram campeões absolutos, tendo ganhado todos os combates em que entraram." in Wikipédia.

6 comentários:

Anónimo disse...

Bastante interessante

Anónimo disse...

Há já bastante tempo que procuro saber mais sobre o jogo do pau português.
Sou de Évora e gostaria de saber se me podem ajudar a descobrir quem me possa ensinar o jogo do pau aqui perto.
O meu mail é o seguinte: jorgecosta8@gmail.com
Muito obrigado pelo excelente artigo

Anónimo disse...

Olá! Estava eu a pesquisar sobre artes marciais(pois sou praticante do chamado "brazilian jiu-jitsu", estrangeirismos à parte, rsrsrs!", e deparei-me com o Jogo do Pau. Esta arte lembrou-me muito meu saudoso avô(imigrante português de Celorico da Beira)que sempre mantinha atrás do balcão de sua vidraçaria um "pau" similar aos que vi nas fotos, e dizia p`ra mim que era p´ra bater nos "vagabundos" que por ventura tentassem roubar a sua loja. Não sei, mas talvez haja alguma conexão com a presente prática.
Sem mais, gostaria de parabenizá-los pela iniciativa. Não deixem que a cultura do Jogo do Pau morra!

Abraços!

Marcelo Chagas
Rio de Janeiro-RJ / Brasil

Gonçalo disse...

Viva as lutas nacionais. Jogo do pau portugues e galhofa (luta corpo a corpo)

Anónimo disse...

Bonito mais voces tem que espalhar isso acabei de descobri pela internet no Brasil existe danças flocloricas que fazem batidas com dois pau semelhantes a este porém não e luta talvez tenha alguma relação.Sabem de alguma escola em Belo Horizonte Brasil?
Saudaçoes e vivas s manifestaçoes culturais.

Anónimo disse...

ola a todos. antes de mais jogo do pau nao tem nada de dança. nada "pre-feito". menos 2 individuos que se confrontam, lutam. logicos que as escolas nao o fazem para defesa pessoal,nem nada do genero, sim para manter uma tradição. algo genuinamente português. algo criando e apereirçoado por nós. nao tem nada de estrangeiro aqui. alguns estrangeiros que nõs veem actuar demonstram imenso interesse mas nao ha nada deleas nisto. faço parte da escola que estao nessa fotos. se algo que queiram saber ou esclarecer é so dizer. bem haja a quem fez esta abordagem por jogo do pau.
cumprimentos liliana abrantes